28.9.11

Marie

— Não posso mais esconder, amigo. Tentei reinventar durante esse tempo, forçando outras verdades, mas o inverno não foi lá um grande amigo, e não sei bem se terei forças para suportar essa primavera. É que você mexe com as minhas estações. Porque anseio, amigo. Porque quando você me abraça, de uma forma inexplicável, ouço as batidas do meu coração desobediente e tento coordenar com as batidas do seu, e, vês, querido, como são perfeitas nossas batidas alinhadas. Venha pedir minha mão à bailar e dançemos valsas até à meia-noite embailados pelas palpitações do meu sentimento que aprendeu a cantar pra você. E perceba, no meu silêncio, que o amor residente em meu peito não quer brincar de amizade... — disse-lhe ela que continha alívio na alma e o amor mais amigo no coração.


"Você foi o caso mais antigo, o amor mais amigo que me apareceu..."

Nota: dedicado à imagem daquele par de olhos que me sorriram agradecidos. E, pela primeira vez, meus olhos sorriram. De volta.

26.9.11

De vez em sempre

Sinto saudades. E isso é o que mais dói em mim. Não sentir saudades de você. Ou do seu cheio. Ou da sua voz. Ou do seu carinho. Sinto saudades de mim, daquele velho eu antes de te conhecer, de te provar, e te aprovar. De te amar. Desse jeito.

22.9.11

Meio esquisito

Oi, meu bem. Queria te falar que é tão frustrante te ligar e não termos assunto. E nossas falas se resumem a risadas e a relembranças do passado, porque nosso presente está tão perdido. Queria ter aproveitado os minutos e te dizer o quanto nos fizemos felizes da nossa maneira. Que aprendi a compartilhar momentos especiais, porque não vejo dia mais especial que meu aniversário, digo, nosso aniversário. E que conheci, ao seu lado, as primeiras vivências do que chamei de amizade. Tenho nosso carinho emoldurado na parede do meu quarto. E ele me sorri feliz não me deixando esquecer que as marcas do tempo não apagam o que foi, verdadeiramente, especial.



Eu te achava tão chata.

Mais risos

Tudo bem que fez aniversário, mas depois que o encanto passou, risos, nenhuma sensação me causa suas conversas repentinas. E sua ausência só fora contabilizada por meu calendário de ligações no celular. E foi-se embora todo aquele frio cortante que fazia tremer o dedo mindinho do pé direito. Seu sorriso era só mais um sorriso, e seus lábios tão comuns... Seus abraços tornaram-se tão frouxos e teu olhar tão sem brilho... Mas o meu calor, meu sorriso, meus lábios, meus abraços e meu olhar continuam os mesmos que, um dia, você jurara querer eternizar na sua vida cheia de esconde-esconde. Depois que o encanto me saudou em partida, me permiti contemplar outras novas sensações e, risos, que mundo fascinante existe fora desse plano que traçamos tão cheio de pontinho-pontinho. Assim que o encanto disse-me tchau, risos, comecei a distruibuir oi por aí, à la carte e à francesa, e, risos, fui retribuído com um olá de quem possuía, na voz, a determinação que completou perfeitamente minha coragem em seguir encantado. Encantando. Risos. Mais risos.

18.9.11

Risos

Estou tão feliz e inseguro. O que se pode adiantar desse tempo de mudança é que tem cor vemelha. Bem forte. Como a da paixão.

17.9.11

Branco

Hoje, finalmente, pincelamos mais cor à nossa amizade. Teu beijo carmin é tão melhor com meu beijo ciano. E nossos corpos amarelos são tão quentes com nossos abraços vermelhos. E teu cheiro magenta tão fixante quanto pôneis malditos. Teus olhos castanhos miram e acertam em cheio meus olhos negros. Se postássemos o retrato dessa felicidade no facebook de nossa vida, eu iria pedir para você compartilhar mil vezes para que eu pudesse curtir mil vezes.

13.9.11

Se ela valer a pena.

Estava escrito em um muro cinza que cortava a cidade em dois grandes centros e, por entre eles, havia um trem cheirando a ferro dilatado. Pintado de branco com margem de preto ao lado de uma árvore imensa, as letras garrafais me furavam os olhos: trago a pessoa amada em sete dias. Tratar com Mãe Lena. De súbito, ri. Mirei o horizonte, incrédulo. Segui viagem. Embarcando na terceira composição em Pavuna, no metrô, te vi. Sério. Sei que você estava em casa, mas te vi. Você usava aquela blusa de cor engraçada polo. Aproximei-me. Senti. Ri do descontente. Era outro alguém. Dormi em pé. Próxima estação Del Castilho, desembarque pelo lado direito. Abri os olhos e, de fronte a mim, esse outro alguém ainda estava. Como um (per)seguidor de meus rastros. Olhei mais de perto e constatei que realmente não era você. Muito diferente, achei graça quando percebi que até tinha piercing no nariz e, risos, você jamais usaria piercing no nariz. Faculdade. Engenharia e meio ambiente. Minha professora tem uma voz tão afinada quanto a sua. Sonhei sentado.
Brincando com meu celular, no caminho de volta à casa, vejo escrito: Lena. Meu deus, quem é Lena? Liguei, claro, minha curiosidade tem sede de respostas. - Oi, sou a Mãe Lena, sinto cheiro de procura. Você quer encontrar seu amor? -, disse-me em um tom suave de quem tem magia na voz. Sim. Não pensei muito. E, de uma maneira inesperada, ela me disse seu nome. E eu me assustei. Não, ela não poderia chutar, ela nem sabia que você... - Sim, eu sei. -, respondeu-me à minha indagação mentalizada. - Semana que vem você me trará, então?-, apressei-me. - Esqueça -, desandei. - Mas no anúncio dizia...-, tentei. - Você não leu a parte que a árvore tampou com a sombra... Trago a pessoa amada em sete dias, se...-, brincou de fazer suspense. - Se...-, indaguei.
Pi, pi, pi.

Caiu a ligação.

12.9.11

Com pregadores

Por esses dias, me tirei do modo "em espera" da sua máquina de lavar que ocupa a lavanderia de minha casa. Depois de tanto enxaguar, sacolejar e esperar me tirei daí de dentro com um desejo reprimido de apertar "continua". Deve ser por isso que minha casa andou inundada e eu, cega, não pude observar que era eu quem pingava. Você sempre sequinho. Emgomado. Eu sempre úmida. E sempre fora assim. Mas, agora, acho mesmo que to secando. E não nego que doa quando me torço respinguando sentimentos por essa varanda fria. Está sol. Aproveitando toda essa beleza de calor, preparo-me para me pendurar no varal da vida. Enquanto ninguém me tirar daqui, eu sigo assim. Evaporando, pingando, secando. E toda a nossa história molhada secará. E eu estarei pronta para me deixar enxaguar de outras histórias.

11.9.11

Capítulo 1

Ventava. E chovia fino. Era possível umidecer os olhos fitando choros inconsoláveis entre as pessoas desconfiguradas cujas faces desalinhavam tenuamente. Outra explosão. Caos. - Corram, corram! - disse-lhes alguém que continha desespero na voz. Dois dos maiores prédios mundiais se resumiriam em destroços. E, em meio à angustia de quem ainda vive, duas crianças me chamaram atenção. A maior delas gritava deliberadamente como numa tentativa fadada ao fracasso em mudar todo aquele cenário que fora pincelado naquelas ruas de Nova Iorque. A outra, no entanto, silenciava. E esse silêncio fora ensurdecedor ao meus ouvidos que acompanhara tudo de perto. De tão perto. Quase dentro. Thiago tinha 15 anos. Perdeu o pai. Rafa tinha 13. Perdeu a mãe.

8.9.11

Das cores

Ela podia jurar que seria cor de noite, e seus olhos sobressaltavam admirados com a beleza da surpresa: era cinza. Claro.
Bem Claro.
Quase branco.

5.9.11

Frag-men-to

"Permanece imutável o frio na barriga e a dificuldade de dizer qualquer pequena coisa, como se fosse platônico depois de já ser correspondido."




(Mariana Costa)