20.5.12

Adeus

Hoje minha poesia de tão triste fez-se em prosa. Hoje mataram-me o amor com a delicadeza de quem põe um vinho tinto numa taça com cuidado, pudera, antes, à queima roupa, sem aviso prévio, com total deselegância. Hoje tive que traçar segmentos de reta tão finitos em um plano que fiz para nossa vida infinita, como pude acreditar na infinitude do nosso amor? Do meu amor? Talvez eu não seja tão infantil assim: sempre soube que a morte chegaria, ainda que sorrateira. Mas eu nunca me preparei para esse luto sem luta, sem querer te reconquistar, sem querer te fazer enxergar da pureza dos meus abraços que você tanto se prostrou. Eu não quero. E dói, por isso. Daqui a pouco o encontro se fará certeiro em nossas vidas desencontradas e você se tornará uma figura desconhecida para mim, e eu para você. E isso, dói demais, agora. Hoje eu me devo ficar bem. Eu fiz do meu amor um plano de vida, fiz dele uma criança: eu cuidei, alimentei, me esforcei para ser o melhor. E não fui. Não fomos. Eu tentei. Eu quis. Mas ele não nasceu da gente, ele foi adotado. Pior que inventar uma brincadeira é acreditar nela. E eu não só acreditei puramente. Eu tinha fé. Agora, preciso cuidar desse coração mané. Mas o poeta se promete ficar bem. Porque de tão triste os versos sangram, de tão triste as rimas empobrecem, de tão triste o silêncio não finda, e a vida não se vive. Vai ficar bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário