23.7.12

Because, maybe.

Talvez eu quisesse explorar tua fúria como quem prepara o coração para o que pode vir. Talvez eu quisesse conhecer tua raiva a fim de desbravar a paz que estaria por vir. Talvez eu quisesse deixar-te em destempero para eu te preparar com meus ingredientes e saborear-te com desejo de não me saciar. Talvez eu quisesse conhecer o lado sombrio que escondia nessa paisagem ensolarada e convidativa ao gozo de estar vivo. Talvez eu quisesse contemplar a guerra e ficar íntimo de tuas armas mais secretas e, por fim, desarmar-te por inteira. Talvez eu quisesse a paz. Mas, se estou contigo há ausência de sentidos, pois vês: temo calafrios. Suo frio. Minhas pernas balbuciam em busca de equilíbrio. Minha saliva seca. Meu corpo desatina na partida. Talvez eu não quisesse a paz. Talvez eu goste dessa loucura sã, ou desse desequilíbrio ponderado. Talvez você seja para sempre. Talvez não seja talvez. ...you're gonna be the one that saves me.

20.5.12

Adeus

Hoje minha poesia de tão triste fez-se em prosa. Hoje mataram-me o amor com a delicadeza de quem põe um vinho tinto numa taça com cuidado, pudera, antes, à queima roupa, sem aviso prévio, com total deselegância. Hoje tive que traçar segmentos de reta tão finitos em um plano que fiz para nossa vida infinita, como pude acreditar na infinitude do nosso amor? Do meu amor? Talvez eu não seja tão infantil assim: sempre soube que a morte chegaria, ainda que sorrateira. Mas eu nunca me preparei para esse luto sem luta, sem querer te reconquistar, sem querer te fazer enxergar da pureza dos meus abraços que você tanto se prostrou. Eu não quero. E dói, por isso. Daqui a pouco o encontro se fará certeiro em nossas vidas desencontradas e você se tornará uma figura desconhecida para mim, e eu para você. E isso, dói demais, agora. Hoje eu me devo ficar bem. Eu fiz do meu amor um plano de vida, fiz dele uma criança: eu cuidei, alimentei, me esforcei para ser o melhor. E não fui. Não fomos. Eu tentei. Eu quis. Mas ele não nasceu da gente, ele foi adotado. Pior que inventar uma brincadeira é acreditar nela. E eu não só acreditei puramente. Eu tinha fé. Agora, preciso cuidar desse coração mané. Mas o poeta se promete ficar bem. Porque de tão triste os versos sangram, de tão triste as rimas empobrecem, de tão triste o silêncio não finda, e a vida não se vive. Vai ficar bem.

13.5.12

Mais um mês

Talvez eu nunca vá entender porque, depois de tanto dias felizes, hoje eu senti dor. Meu corpo doía por inteiro. Hoje senti que você é incrível, mesmo eu não acreditando nisso. Hoje, eu quis ficar bem do seu lado enquanto você vê mais uma vez sua novela preferida. Hoje, quis atentar para delicadeza em seu espírito enquanto arrumava os dvds à prateleira. Hoje, quis abraçar você e seu cachorro na cama e deixar que você me divida com ele. Hoje, eu quis ser seu. De novo. Mesmo sem saber se um dia você me pertenceu, completamente. Hoje, eu tentei encontrar você em outras pessoas por aí. Hoje, eu vi: eu partir, querendo ficar. Eu sumi, querendo aparecer. Eu me fui. De mim e de você. Porque você se fora primeiro, sem dizer um tchau. Adeus. Eu nunca irei entender porque hoje foi um dia complicado, porque hoje eu senti tanta falta em não sentir falta de você. Forcei-me a não escrever sobre sua partida, porque eu escrevendo, passaria, e eu não queria que passasse, queria que fosse ferida: não cicatrizada. Queria arder e deixar que você cure. Mas você não curou. Mas você não cuidou. Mas você não me amou. E amanhã, faríamos mais um mês.

24.4.12

Preocupa-se?

Deveria mesmo me preparar para sua partida. Nunca fui de colher frutos antes do tempo, acontece que o outono estava me sorrindo quieto, meio tímido, amedrontei: não quis te ver partindo antes do tempo. Por isso, te colhi em pleno verão. Você me deu todo seu gosto, e, eu, farto de tanto sabor, fiz o mesmo: você me teve por completo, em cada poro de meu corpo eu te emanava amor. E nos amamos. E nos provamos. E nos deliciamos. Até que. Tudo foi apodrecendo. Primeiro, sua procura, e olha que eu nem me escondi. Depois, minha insistência. Não sei comer uma fruta só pelas beiradas e não provar a semente. Eu precisava de tudo. Tínhamos tudo. E agora, nada. Nem mesmo um vazio sobrou.

12.3.12

Realisonho

Maria estava mesmo tentando salvar seu noivado. Quando o amor entra em desalinho, descarrilhando tons e melodias, as mensagens começam a não chegar. E o celular começa a não tocar. Estava firme de que havia uma forma de evitar o desamor: desamando. Andava com seus fones de ouvido e esquecia do mundo afora de suas músicas. Não cobrava, não ligava, não encontrava. Tinha que sumir. Até que, um dia, passeando pela floresta indo para casa da vovó, ouviu: que olhos grandes você têm. Quis gargalhar, zombando da tentativa frustada de alguém a amedrontá-la. Que boca grande você tem. Titubeou. A voz ganhara um tom mais grave e já não havia tanto motivo para sorrir. Que seios grandes você tem. Vou chamar a polícia! Chama... Vamos ver se você terá tempo! Maria deu um salto por entre a lama que se formara entre aquelas raízes grossas com com folhas secas, mas era tarde demais. A voz estava atrás dela, esperando para dar o bote final: você quer se casar comigo?

3.3.12

Feito você

Foi feito fogo. Meu corpo tinha fome de seu corpo: quanto mais comia, menos se saciava. Você deve ter um tempero exótico, único, gostoso. E eu mastigava, e moía, não queria engolir. Não queria que saísse da minha boca, seu gostinho ficou nos meus lábios e minha língua, instintivamente, brincava de reconhecer cada canto de minha boca simulando seus beijos. Feito vício. Seu gostinho ficou até no meu sorriso, nas minhas mãos, no meu peito, em todo meu corpo. Quis não tomar banho, quis ficar sujo. De sua saliva. De seu suor, de seu orgasmo. Vários deles. Seu sabor me deixa bobinho, desses que ficam meigos e brabos por qualquer destempero. Quis abraçar e olhar fundo nos teus enquanto os meus, olhos, reportavam uma felicidade desmedida. Deve ter uma pitada de sal ou de pimenta. E, eu, também fui salpicando ingredientes. Quando percebi, já havia acabado com um fardo de amor.