5.3.10

Confusão temporal

Acho que nasci na época errada.

Estava por ler "Clássicos sobre a Revolução Brasileira", e foi inevitável, logo de imediato, questionar-me: "Onde estive?". Sonhando talvez, era o que de praxe fazia após vê o recém comprado VHS de desenho animado. Correndo talvez, porque corridas e piques marcam uma infância. Descansando talvez, no ventre de minha mãe esperando a hora de aparecer ao mundo. Por que vir parar nesta época de revoluções fracassadas? Ao lado do grande Che comemoraríamos diversas vitórias, nem que sejam ideológicas, juntos. Com André Rebouças, grande abolucionista, traçaria planos de fugas de escravos assolados pela injustiça que vigorava aqueles tempos.

Se fosse para voltar mas não em forma humana, seria prazeroso ser um fato. Na atualidade, seria o Protocolo de Kyoto. Em 1929, seria o tal do crash. Iria fazer o mundo todo consertar as falhas capitalistas que lhe era fadado há muitos. Na época em que não era permitido pensar, seria o Renascimento, o Iluminismo.

O que mora em mim é uma vontade deliberada de mudar tudo aquilo que me nego viver e/ou concordar. Não consigo ver um jovem contraindo cancer pulmonar em prestações e ficar calado. O que se equivale a centenas de atos, que não me corrompem, mas que influenciam toda uma geração deficitária de cabeça pensante.

Tenho em mente que o errado sou eu, claro. Eu quem nasci na época errada.
Eu quem ignoro os avanços tecnológicos do novo século, eu quem desacredito na
emocionante ida à Lua. Eu sou o errado, claro. E por isso, mergulho em meu livro novo. Não como quem lê e contesta - já o fiz. Mas sim, como quem o lê e o vive.