12.3.12

Realisonho

Maria estava mesmo tentando salvar seu noivado. Quando o amor entra em desalinho, descarrilhando tons e melodias, as mensagens começam a não chegar. E o celular começa a não tocar. Estava firme de que havia uma forma de evitar o desamor: desamando. Andava com seus fones de ouvido e esquecia do mundo afora de suas músicas. Não cobrava, não ligava, não encontrava. Tinha que sumir. Até que, um dia, passeando pela floresta indo para casa da vovó, ouviu: que olhos grandes você têm. Quis gargalhar, zombando da tentativa frustada de alguém a amedrontá-la. Que boca grande você tem. Titubeou. A voz ganhara um tom mais grave e já não havia tanto motivo para sorrir. Que seios grandes você tem. Vou chamar a polícia! Chama... Vamos ver se você terá tempo! Maria deu um salto por entre a lama que se formara entre aquelas raízes grossas com com folhas secas, mas era tarde demais. A voz estava atrás dela, esperando para dar o bote final: você quer se casar comigo?

3.3.12

Feito você

Foi feito fogo. Meu corpo tinha fome de seu corpo: quanto mais comia, menos se saciava. Você deve ter um tempero exótico, único, gostoso. E eu mastigava, e moía, não queria engolir. Não queria que saísse da minha boca, seu gostinho ficou nos meus lábios e minha língua, instintivamente, brincava de reconhecer cada canto de minha boca simulando seus beijos. Feito vício. Seu gostinho ficou até no meu sorriso, nas minhas mãos, no meu peito, em todo meu corpo. Quis não tomar banho, quis ficar sujo. De sua saliva. De seu suor, de seu orgasmo. Vários deles. Seu sabor me deixa bobinho, desses que ficam meigos e brabos por qualquer destempero. Quis abraçar e olhar fundo nos teus enquanto os meus, olhos, reportavam uma felicidade desmedida. Deve ter uma pitada de sal ou de pimenta. E, eu, também fui salpicando ingredientes. Quando percebi, já havia acabado com um fardo de amor.