5.8.09

A prosa que eu nunca te escrevi.

Às vezes me perco dentro do labirinto que trago no peito. As lembranças, me basta apenas reviver. Não faz muito tempo que me entreguei por completo à mudança, não faz muito tempo que amei você. Meu antigo amor tinha uma fome insaciável pela felicidade, tinha uma covinha no sorriso que me alimentava. Era como um dado num jogo em movimento... tudo dependia do ângulo que eu olhava, às vezes parecia nem ligar, outras ligava tanto que mais parecia pena.

Amar alguém que já tem outro alguém é complicado, mas amar alguém que busca esse outro é uma dor imensurável. Foram feitas mil loucuras para essa conquista: passei manhãs a fio de férias ensolaradas dormindo, acordava tarde e me embriagava de água, me entupia de poucos grãos de arroz e pouco caldo daquele feijão carregado.

Mudei por mim, mas principalmente, por você. Andava pelas ruas destraído com pensamentos entediados de seu nome, e ao me verem, perguntavam-me se tinha adoecido. Era um ex moleque que você, um dia, apenas gostou. Fiz-me alguém tão determinado, tão corajoso, tão mudado que você não poderia gostar dessa transformação, você deveria amar.

A imagem do nosso primeiro encostar os lábios, acareciar a face, envolver-nos aos braços me vem à cabeça como um fotografia recém tirada de uma polaroid onde você fica assoprando para a imagem se estabilizar, mas às avessas, me pego arrumando uma forma de transformar essa imagem estabilizada ao que era antes, úmida, fresca, real.

Você me fazia feliz com validade. Eram exatos sete dias para seu arrependimento aflorar, e você começar aquele joguinho de esconde-esconde, a me ignorar, desprezar... E foram exatas 3 vezes, que torturei com as suas idas e vindas.

Naquele momento que ficamos um defronte ao outro - passados dias naquele jogo - houve uma revelação cega: é preciso dar o 'remédio do silêncio' para tratar a indiferença do outro; e a agulha com que se aplica deve ser fina e muda; e o olhar - esse é o mais importante - o olhar deve ser irrelevante, vazio, porque a cura vem do silêncio secretamente enfurecido e só ele sozinho é capaz de dizer o que a alma muda não consegue verbalizar.

Eu não te disse nada além de um oi indiferente, um como vai indiferente, um até mais indiferente, e o que não te disse ficou tatuado na alma: te amo.. diferente de tudo que já amei. Meu antigo amor jurava não ter pena, mas bem que eu notei em seus olhos um ar de compaixão ao dizer um sim, um sim tão murcho que me contentaria com um sim calado. Mas eu acho que te surprendi, meu querido antigo amor.

Fui tão intenso, fui tão eu contigo, que você me amou pura e verdadeiramente até na terceira semana, até minha cegueira passar. Passei longos meses idealizando meu amor, e de tão idealizado, ele ficou maior que você. Eu amei mais minhas fantasias, ilusões, desejos, esperanças.. Que quando pude tocá-los, alcançá-los, eles se revelaram grandiosos, porém menores.

As lembranças que trago daquela época são paradoxos complexos que eu forço para não lembrá-los, e quando mais forço é quando mais fortes, justamente, eles ficam. As indas e vindas, os choros e as alegrias, o fascínio e o desencanto.. tudo vivido e revivido a cada 'vamos dá um tempo', a cada volta que eu sempre te concedia.. a cada essa montanha russa. Os traços dessas palavras sempre são retas por mais tortuosas que pareçam ser, pois se não fosse assim, como poderiam atravessar meu peito com tanta precisão? Atravessar as paredes que se embaralham nesse labirinto que faz moradia em mim...


Há tantos vestígios do meu antigo amor em mim. Você me fez sofrer, mas me fez viver, me fez criar um amor-próprio, você fez com que eu me superasse, você, ironicamente, me fez uma pessoa melhor. São dessas virtudes que gosto de lembrar, são só dessas que a sua saudade me faz lembrar te ti outra vez ...

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