13.1.10

Vivendo do passado.

"Confesso, acordei achando tudo indiferente
Verdade, acabei sentindo cada dia igual
Quem sabe isso passa sendo eu tão inconstante
Quem sabe o amor tenha chegado ao final..."
(Ana Carolina)



Um mês depois:


Maria Flor mandara um sms após dias intermináveis à espera. Desde o encontro com Bernardo no ônibus, seus dias foram assim: ansiosos.

"Cansei, estou cansada. Faz 30 dias que durmo com meus pensamentos lá em você, e acordo assustada pensando em te perder. Perder? Perder em mim. Eu não quero, não. Eu não queria, não..." (02/01/2010 - 01:46h a.m.)


Joana viu o tremor do celular em cima do criado-mudo. Observou, por entre as frestas da janela, se Bernardo ainda estava escovando os dentes. Esticou suas mãos encharcadas de hidratante até o aparelho. Quando o tinha em mãos, não pensou se era correto ou não. Apenas, o fez. Enviar. Mais tarde, apagar.

"O que posso fazer por ti? Se você não me procura, se você nao vem até mim? Agora, outras ocupam teu espaço, eu só não sabia como te dizer. E digo, então, adeus".

A Maria Flor de algumas semanas atrás despencaria em lágrimas. Esta tem, agora, a razão entrelaçada à emoção. Leu, e em cada palavra, sentia-se forte. E fraca. E uma mistura disso. — Sou fraca, como pudes enviar esta sms se ele nada se importou. Sou forte, eu quem já não me importo mais. — concluiu ela.

"Feliz 2010", ela respondeu via mensagem. Ponderou que, se nada respondesse, o que ele enviou teria sido eficaz, e de tristeza Maria Flor seria.

Bernardo, que estava programando o despertador do celular, se surpreendeu com uma cartinha que animava a tela: de Maria Flor. Feliz 2010. Abrira um sorisso escondido, Joana, cansada da noite que tivera com Bernardo, já estava dormindo. E, ele digitou então.

"Amor, minha Flor. Que saudades sinto de ti. Eu não pude te procurar porque, tu não sabes, mas tive uma viagem relâmpago de negócios, cheguei faz 2 dias e ainda estou resolvendo alguns pendentes. Quero te ver. Feliz 2010"

— OOOOOOK, Bernardo, ok, ok. — enfureceu-se ela. Calou-se. Dormiu.


Dois meses depois.


— Mas olha só, de novo estamos no mesmo ônibus, no mesmo assento, no mesmo ponto, mas em viagens diferentes. — brincou ele, que tentara passar a mão no rosto dela.

— Oi Bernardo, quanto tempo, não? Não passa a mão aqui, tem uma espinha imensa. — disse ela, naturalmente.

— Desculpa. — E logo foi se sentando. — Recebi sua mensagem, fiquei muito feliz por ter se lembrado.

— Ah, que bom. Ano Novo me inspira. — soltou ela, lembrando-se do momento.

— Quando podemos nos ver com mais calma? Sinto falta dos teus beijos, do teu abraço, do teu amor.

— Ih, nem sei Bê. Ando tão atordoada. — mentiu ela, laconicamente.

— Por que está tão estranha? Parece que está forçando frieza...

Ela soltou um riso espontâneo, como se fosse uma piada o que ele acabara de dizer.

— Você acha mesmo ? — riu novamente. — Juro que é impressão. Eu te disse, ando atordoada.

— Como o que ?

— Com a viagem, amanhã vou para o Novo México, e ainda não arrumei as malas.

— Você vai pra longe de mim? E se eu não te encontrasse hoje? Não ia se despedir? Vai ficar quanto tempo? E eu, Flor? E eu? Como fico aqui? — estremeceu ele, com a sensação de que nunca mais viria a Flor.

— São só 3 ou 4 anos. Calma. Estamos distante 4 meses. E foi tão normal. Esta viagem será moleza. E meu namorado vai comigo. Eu vou está tranquila, meu amigo.

— Namorado? Amigo? 3 ou 4 anos? Maria Flor, não vai. Não vai. Por favor, olha como eu estou. Maria flor...

— Desculpa não te avisar antes, é dífcil lembrar das coisas nessa confusão que é viajar. Meu ponto é o próximo. Fica com Deus, Bê.

Bernardo possuía olhos marejados e coração apertado por entre o peito. O que ele fizera durante esses dois meses após a mensagem dela? Nada, além de esperar. — Ela deveria vir a mim. Eu mandei a última mensagem e ela não respondeu. Eu que fiquei na espera. Ou eu deveria procura? Ou? Por que eu não fui atrás, por que? Por que? —Chorou, e foi atrás dela.


Léo esperava por Flor com seu carro amarelo do ano. Flor só teve o trabalho de descer e entrar no carro. E assistiu, pelo vidro do carro, Bernardo ir à sua direção. Mas Léo já tinha dado partida no carro. E a distância entre os dois aumentava. Só fisicamente, porque emocionalmente, para Flor, não existia distância. Porque não existia emoção. Além da indiferença que não é ódio e nem raiva. Só um estado puro de espírito.

"Quantas flores deixei de colher quando na primavera estive em outra estação." Pensou Flor, quando olhava para o Léo. Querendo que ele existisse na sua vida, por muito mais tempo...


Amanhã é um novo dia.





Postagem coletiva. Participe!

7.1.10

Sobre você

Andei colecionando sons. Músicas. Acho que todas falam de amor. Falam sobre você. Andei juntando melodias, frases bonitas, rimas ricas. Elas falam sobre você. Logo eu, que havia decidido não falar sobre você, que havia me encaixado dentre tantos pedaços a fim de que você nunca mais me encontrasse por ai despedaçado, logo eu, que em portos perdidos naveguei contra tua correnteza, me peguei pensando em você, montando-te em um puzzle sem fim. Contruir-te, amor. Como em um cubo mágico, fiz das tuas faces perdidas, uma imagem completa, e eu, que em outras faces estava, me desconfigurei.

Andei colecionando escritos. De todos que eu indiretamente chamei de teu nome. Andei refazendo traços, pincelando emoções em uma carta antiga pelo tempo, andei. Andei tanto por ai, te vi enquanto modelava o que chamam de nuvens de algodão, embebidei-me tanto de teu amor que hoje ando embriagado. Cansado. Mal humorado. Estou de ressaca.

Andei com dor-de-cabeça. Andei sério, estúpido, grosso. Andei, andei e andei que hoje nao ando mais, paro. Inerte. Cansado de pensamentos teus. Até o som vagar por estas ruelas que passeiam em minha vida, até cheiro doce do pão de sal tocar minha pele, até meu olhos fixarem como uma polaroid recém tirada, eu lembro você. Ando colecionando sentimentos. Ando colecionando vidas. Ando amando você.

22.12.09

Olhe, bem.

— Podes vir, moça bonita.
— Sinto-me estranha, há muitos não sei se meu regresso é desejado.
— Olhes bem para esta boca de dentes expostos e responda-me tua pergunta.
— Tu sempre foras gentil, mas sei que de tanta gentileza não cabe tanta verdade.
— Olhes bem para esta mão de dedos trêmulos e responda-me tua pergunta.
— Sei que tu tens mania de tremer quando estás nervoso...
— Olhes para o brilho que emana de meu olhar e responda-me tua pergunta.
— De felicidades tu és feito, de luz tu és intenso.
— Olhes bem para dentro deste meu peito de coração palpitante de amor teu, mas olhes com pureza e leveza, vejas quanto isto permanece aqui comigo.

(...)


— Como é doce a volta ao nosso lar, meu amor.

10.12.09

Sinta.

Resumidamente: abra, e estique cuidadosamente esta fita que entrelacei com pensamentos entrelaçados aos seus abraços fugazes. Podes fazer o mesmo com aquela outra que enlaçava cá esta que tu desfizeste de sua beleza. Puxes. Percebas quanto poder paira sobre suas mãos, sinta o pesar da responsabilidade que te presenteia neste momento. Desembrulhe o embrulho onde [me] escondi esta importância em miniatura para que tu possas arbitrar o novo rumo que direcionei em teus braços. Abrace. E Ponhas a caixa acima de teu colo que por noites fiz de minhas almofadas e de suas carícias meu aconchego. Chegues perto. Tentes espiar por entre buracos que milimetricamente planejei, pois bem sei acerca de tua ansiesade. Agora que tu já sabes o que te espera, não desistas, vá, ande. Abra. Retires o lacre, o obstáculo que em nossas vidas impedia-me de te encontrar por estas estreitas ruas que modelam um labirinto-sem-saída. Ponha-te firme. Cautelosamente, ponhas tuas mãos frias e trêmulas dentro deste caixote que contém aquilo que possas ser o presente mais bem dado por alguém que sofre de silêncios teus. Pegues. Sinta o perfume forte que ao longo do presente espirrei para que tu possas sentir a fragância que me lembras você. Sinta-te. E deixes teus olhos brilharem por ao menos frações destes segundos que se não fosse tão dramático, daria meus olhos e os colocaria neste embrulho, para presenciar tua surpresa ao deparar com minha relíquia. Vejas bem, moça, há contigo, agora, um coração. Que pulsa, que estremece, que fraqueja, que sente. Sinta, moça. Fraqueja, moça. Estremeça, moça. Pulse, moça. Ame.

26.11.09

Passos pelos campos

Bem me faz tu quando insistes em caçar meus rastros em outras trilhas. Deixo úmida minha pegada, forço minhas pisadas, e sigo este meu trajeto, reto, nada correto. Não dou cabo de minhas marcas, exponho-as, e que tu encontre-as rapidamente, ou demores um pouco, deixando-me saborear esta mistura doce do reencontro com o amargo da saudade. Podes caminhar ao lado de meus desenhos perfeitamente delineados à terra fresca, podes traçar teu destino paralelamente ao meu. Somos retas, e paralelas. Não nos encontramos... Tu consegues bem seguir meus passos, sinto tua presença a cada passo milimetricamente dado em minha direção. Mas estes meus rastros que deixo ruas afora estão em outros campos, em outras terras. Aqui, perto de mim, há apenas pegadas no asfalto. Não há como enxergar estes meus passos. Ainda deixo minha esperança solta pelos campos, um atalho. O atalho que te ensinas a chegar nestas trilhas distintas do meu andante coração.

24.11.09

Calo-me e tu falas por mim

Você some.
Me consome.
Sabe que não é assim.
Gosta de pertubar a mim.
Nesse jogo de gato e rato.
Não me dá papo.
E a gente vai vivendo
E se entendendo, assim...


por Felipe Garcez