5.1.12

Para não sentir amor

Marcavam cinco horas da manhã e tudo que ele precisava era desaparecer sem algum motivo aparente. Acordou cedo, seus olhos miravam o ermo de um quarto numa casa adormecida. Escovou os dentes minusciosamente a fim de adiar sua partida, que de início lhe veio como um pequeno incômodo, depois, foi crescendo assim como sua vontade de desabrigar inquilinos do seu peito. Enquanto havia motivo, ele não poderia partir. Queria que fosse, assim, de súbito e, mais importante, sem razões. Mas havia uma razão intríseca à sua mente e às memórias tão bem conservadas na caixinha de ilusões rente à área responsável por amar. Como poderia ir embora e deixar claro que era por essa coisa que o martelava assim que deitava-se a dormir? Na verdade, ele precisava se deixar. Partir de si mesmo. Quantas vezes fosse necessário. E o fez. Partira sempre ao amanhecer e voltava antes do escurecer. Às vezes, quando tinha vontade de reviver suas lembranças, partia também. E assim seguia, queria ficar bem. Às vezes, em vão. Às vezes, inconsequentemente. Mas partia. Enquando não entendesse que desaparecer de si, de suas lembranças, era a melhor forma de sumir sem motivo aparente, ele partia.

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