Antes eu pensava que se colocar em primeiro lugar era egoísmo. Hoje eu entendo o quanto o principal investimento tem que ser em nós mesmos. É através do nosso resgate, do nosso autoconhecimento, que adquirimos condições de não cair na armadilha da manipulação, da necessidade de ser aceito, amado, ou de simplesmente, usar o outro como foco para uma desesperada fuga de um encontro com quem somos com quem estamos. Quando não nos cuidamos antes de qualquer espécie de “generosidade”, procuramos, inconsciente ou conscientemente, nosso próprio benefício, por mais que o mesmo, aparentemente, se estenda ao outro: sentimo-nos úteis, bons, nos sentimos, inclusive, superiores. Por isso, é tão importante ter um vasto olhar para o nosso interior antes de sair por aí oferecendo ajuda ou apontando o dedo como pseudo-psicólogos do mundo.
Quantas vezes aconselhamos em vez de pedir colo, ou engolimos nossa dor para tentar curar a alheia. E damos fragilmente aquilo que em nós ainda não está firme. Isso não nos deixa mais fortes, apenas mais disponíveis... Isso nos distrai do que precisamos arrumar na nossa própria vida. Isso nos tira, temporariamente, do nosso caminho, por talvez achar que a própria caminhada seja mais árdua.
Mas quando há o investimento pessoal, seja lá o que façamos, fazemos sempre por uma causa mais nobre: para ter um relacionamento amoroso livre de dependências, amizades sem cobranças, uma convivência pacífica com a sociedade em geral e, sobretudo, o altruísmo verdadeiro. Por isso, é tão importante ter um vasto olhar para o nosso interior antes de sair por aí com aquela fantasia de salva-vidas (quando os afogados somos nós mesmos).
Portanto, vá ao encontro do outro quando estiver encontrado a si mesmo e quando estiver finalmente desistido de abandonar sua própria realidade.
Seja intenso, extenso, inteiro. E, sobretudo, honesto.
" Desesperanças e sonhos fugazes inudam toda a rua que se faz estreita aos passos cambaleantes deste instável rapaz cheio de ventania."
25.1.12
24.1.12
Desconectados
São tantas figuras de linguagem. São tantos porques, portantos e entretantos. A gente vivia uma espécie de apesar de. Apesar de amigos, amantes. Apesar de amantes, amigos. E qual palavra depois da vírgula eu deveria construir uma oração? Amigos? Amantes? Mesmo recheado de haja vista que meu coração não é bom em sintaxe... minha percepção menos ainda. Ainda que eu soubesse, me forcei acreditar que nada era sabido e, agora, nós dois, pagaremos o preço de não sermos bons em português. Apesar de amantes e amigos, agora, sem nenhuma conjunção explicativa, distantes.
5.1.12
Para não sentir amor
Marcavam cinco horas da manhã e tudo que ele precisava era desaparecer sem algum motivo aparente. Acordou cedo, seus olhos miravam o ermo de um quarto numa casa adormecida. Escovou os dentes minusciosamente a fim de adiar sua partida, que de início lhe veio como um pequeno incômodo, depois, foi crescendo assim como sua vontade de desabrigar inquilinos do seu peito. Enquanto havia motivo, ele não poderia partir. Queria que fosse, assim, de súbito e, mais importante, sem razões. Mas havia uma razão intríseca à sua mente e às memórias tão bem conservadas na caixinha de ilusões rente à área responsável por amar. Como poderia ir embora e deixar claro que era por essa coisa que o martelava assim que deitava-se a dormir? Na verdade, ele precisava se deixar. Partir de si mesmo. Quantas vezes fosse necessário. E o fez. Partira sempre ao amanhecer e voltava antes do escurecer. Às vezes, quando tinha vontade de reviver suas lembranças, partia também. E assim seguia, queria ficar bem. Às vezes, em vão. Às vezes, inconsequentemente. Mas partia. Enquando não entendesse que desaparecer de si, de suas lembranças, era a melhor forma de sumir sem motivo aparente, ele partia.
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