23.7.09

Surto de realidade



Há dias venho aprisionando uma vontade deliberada de regressar ao blog. Assuntos pertinentes surgem na minha cabeça como aquela abelha infernizante no seu suco de laranja. Imagino milhares de palavras, formando um texto, com um cunho ideológico, sentimental, romântico. Mas não é tão fácil assim. Eu não me sinto à vontade para escrever, essa idéia de expressar, de dar vida às emoções, alimentá-las, tirar o invólucro que circunda essas insanidades, certamente, não é comigo. Tenho preferido guardar pra mim: ouvir, ouvir, ouvir e não falar. Omitir.


Mas chega um momento que não dá mais, a gente explode. Estou,defitivamente, cansado de passar pelas ruas e ver sempre as mesmas crianças no sinal, os mesmos baleiros no ônibus, a mesma rua esburacada, a mesma hipocrisia, a mesma humilhação, a mesma violência, as mesmas eticéteras. "Crianças morrem de fome, os homens estão se matando. Eu vejo na televisão desvios, corrupção, o crime está compensando."

Há alguns meses, uma senhora, deitada na passarela do metrô, negra e franzina, me pediu algum trocado a fim de financiar o remédio da filha doente. Não tinha trocado, e tinha acabado de receber meu salário. A menor nota que eu tinha era a de dez. Por estar tão sensibilizado com a história e por observar as vestimentas tão elementares que aquela senhora se submetera, eu a judei. Ganhei meu dia (ganhei por poucos minutos desse dia), me fez um bem que eu mal aqui poderia descrever. Lembraria desse dia com muita satisfação se eu não tivesse esquecido minha identidade no trabalho, e não tivesse passado em frente o bar, e visto aquela senhora comprando cigarros. Trouxa, otário, seja lá o que for, fiz minha parte.

Há em mim um anti-herói, cheio de jogadas revolucionárias, e também cheio de limitações. Havia, em tão pouco tempo atrás, uma vontade de mudar o mundo, e hoje eu já nem sei mais se sou capaz. Mas se eu puder mudar quem está ao meu redor, já está de bom tamanho. Um país melhor, se faz com pessoas melhores. Ninguém é a base de uma mudança quando se está estático. Requer muito de nós jovens. Temos que bater no peito, e buscar esse patriotismo esquecido. Erguer a bandeira do Brasil e mostrar a todos que vale a pena gritar pelos quatros cantos o orgulho de ser brasileiro, não somente em tempos de copa do mundo, mas em tempos quaisquer. Mudança requer um pouco mais que idéias, textos, requer muito mais a prática à teoria..


*Texto registrado e protegido pela Biblioteca Nacional.

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